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quinta-feira, 3 de julho de 2025

Entre a luz e a sombra: os contos de Gustavo Alkmim em “A culpa deve ser do sol”

 Por Luciana Nóbrega                                                               

Entre a luz e a sombra: os contos de Gustavo Alkmim em “A culpa deve ser do sol”

Há livros que se anunciam, e outros que simplesmente chegam. A culpa deve ser do sol, de Gustavo Alkmim (Editora 7Letras), se apresenta com a força serena de quem conhece profundamente tanto a linguagem quanto a vida. O autor — desembargador do Tribunal Regional do Trabalho, mestre e doutor em Literatura e Estudos Culturais pela PUC-Rio — conjuga, em sua escrita, a precisão de quem julga e a sensibilidade de quem escuta.

Seu nome já circulava discretamente entre leitores atentos desde o elogiado O futuro te espera (2021), livro que conquistou o primeiro lugar no Prêmio Rubem Fonseca, categoria Contos, concedido pela União Brasileira de Escritores (UBE/RJ) em 2023. Com A culpa deve ser do sol, Alkmim se confirma não apenas como escritor, mas como um observador comprometido com os tempos que narra.

O livro se estrutura em três movimentos, quase como uma sinfonia de afetos, feridas e ironias. O primeiro conjunto, intitulado “O cálice amargo”, apresenta personagens que habitam a delicada linha entre o cotidiano e o desconcerto. São histórias que lidam com o preconceito normatizado, o racismo entranhado, a hipocrisia social — mas sem perder a cadência narrativa. Cores vivas e A culpa deve ser do sol são, aqui, retratos pungentes de uma realidade muitas vezes ignorada.

Na segunda parte, “O mistério”, o texto suaviza sem perder densidade. A prosa se volta ao amor, à memória, ao espanto diante daquilo que não se controla — o tempo, o desejo, o outro. Carmozina e O encontro são contos que flertam com o lirismo, mas mantêm os pés firmes no chão das relações humanas.

Por fim, em “A procissão”, encontramos o humor — nunca raso, jamais gratuito. A mãe de santo e Uma bela amizade revelam um escritor que sabe rir dos seus personagens sem ridicularizá-los, tratando-os com a mesma empatia que exige do leitor.

O título do livro, ao sugerir que a culpa talvez recaia sobre o sol, lança luz sobre uma ideia incômoda: a de que há algo profundamente errado em nossa maneira de existir e conviver. Alkmim não oferece respostas fáceis — tampouco julga. Apenas mostra. E ao mostrar, transforma.

Sua prosa é fluente, sutilmente machadiana, moderna em conteúdo e clássica na forma. Há elegância no texto, mas também coragem. Há crítica, mas também ternura. Um equilíbrio raro, que só se alcança quando se conhece profundamente o peso — e a leveza — da palavra.

Não por acaso, o professor e ensaísta Ivan C. Proença, mestre e doutor em Literatura, afirma:

“O autor, Gustavo Alkmim, com este ‘A culpa deve ser do sol’, confirma sua trajetória de legítimo representante da que conhecemos, hoje, como ficção maior na literatura brasileira.”

Gustavo Alkmim entrega ao leitor um livro que é convite e espelho: convida à leitura cuidadosa e reflete, com inquietante nitidez, quem somos — ou quem preferiríamos não ser.




Luciana Nóbrega

Cantora, compositora e escritora. Transita entre a arte e o pensamento crítico com sensibilidade. Especialista em negócios, administração e direito, atua também na área jurídica com foco em cultura, comunicação e inovação.

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